Artesão com necessidades especiais 'transforma' artistas e atletas em barro
Pelé, Neymar, Messi, Elvis, Roberto Carlos e Luan Santana são criações dele.
Artista mora com a mãe em um loteamento popular de Caruaru, Pernambuco.
"É coisa de Deus", diz a aposentada Maria do Carmo, de 74 anos, sobre o dom do filho em criar peças de barro, que se destacam por terem riqueza de detalhes. O artista Azivan Galvão, de 45 anos, desenvolve a arte - de forma profissional - há 20 em Caruaru, no Agreste pernambucano. Aos três anos de idade ele caiu de uma cadeira e perdeu parte da voz e da audição. "Ficava me perguntando: 'o que será dele quando for adulto?'. Hoje vejo o quanto a vida me supreendeu", ressalta Maria do Carmo. Com a venda das peças, Azivan ajuda no sustento da mãe.
Rogério Ceni, Pelé, Neymar e Messi são alguns dos jogadores de futebol que Azivan já criou em barro. Os cantores Elvis Presley, Roberto Carlos, Luan Santana e Bruno e Marrone também fazem parte da coleção de artistas desenvolvidos pelo artesão. "Muitas pessoas ouvem falar no trabalho dele e tem a curiosidade de ver pessoalmente. Quando chegam aqui, ficam encantados com o que ele produz", conta a autônoma Joseni Galvão, de 46 anos, irmã do artesão.
O artesão cria os bonecos em um quarto localizado nos fundos da casa na qual ele mora com a mãe. No local ele começou a aperfeiçoar a arte. Azivan diz que no início o barro não tomava a forma que ele queria. "Antes eu fazia bonecos muito magros. As pessoas olhavam e diziam: 'Ele está com fome, é?'. Foi quando eu comecei a fazer eles mais gordinhos e a gostar do que eu estava fazendo", brinca o artista.
Joseni também conta que Azivan "transforma" as pessoas em barro ao olhar para as fotos delas. Da mesma forma ele faz com os famosos. "Se alguém quiser mandar fazer algum parente em forma de barro, é só trazer a foto que ele cria o boneco. Ele faz com riqueza de detalhes. Se o cabelo for grisalho, sai igual. Se for cacheado, também sai igual", diz.
Ao G1, o artesão diz o que prefere fazer em barro. "Gosto de fazer tudo. Pessoas, animais, carros. Mas o que eu mais gosto é de fazer jogadores de futebol. Principalmente do Corinthians e Central, que são meus times", revela.
Mudança
Tanto a família quanto Azivan são naturais de Pesqueira, também no Agreste. Eles vieram morar em Caruaru há cerca de 40 anos. "A dificuldade foi muita. Assim que cheguei aqui [Caruaru], eu e meu marido nos separamos. Com isso, fiquei responsável por cuidar de todos os filhos sozinha. Passamos por muitas dificuldades", lembra a mãe do artesão.
"Agora é muito bom relembrar isso. Deus me ajudou muito com tudo. Se existe uma mãe que pode dizer que é feliz, sou eu. O dom dele é aquela coisa que me faz parar e pensar: 'ele não pode ser meu filho, não'. E agora ele tem uma profissão que me orgulha muito", diz Maria do Carmo orgulhosa.
"Meus pais foram muito corajosos. Saíram de Pesqueira sem nada e vieram morar numa cidade diferente, onde não conheciam ninguém, não tinham emprego... Foi muito difícil. Graças a Deus, todos nós nos tornamos cidadãos de bem. E ainda tem Azivan, com esse dom maravilhoso", ressalta Joseni.
A irmã do artesão lembra que ela, a mãe e os irmãos chegaram a passar fome após mudarem de cidade. "Lá em casa, o lema sempre foi 'um por todos e todos por um'. Éramos nove irmãos e todos sempre buscavam ajudar a nossa mãe a cuidar de Azivan. Às vezes íamos dormir sem comer e sem saber se teriamos comida no dia seguinte. E isso não foi motivo para a gente roubar ou matar por dinheiro. Todos seguimos no caminho do bem", conta.
Início
Maria do Carmo, mãe de Azivan, lembra que o filho começou a despertar para a arte do barro ainda criança ao ver uma peça em uma feira livrre. Nas feiras eram vendidas uma vacas de barro bem mal feitas. E isso chamou a atenção de Azivan quando ele era pequeno. Ele me fez comprar uma das vaquinhas e, quando chegamos em casa, ele decidiu que iria aperfeiçoar aquela arte. A partir desse momento ele começou a desenvolver essa profissão de artesão", ressalta.
Limitações
Por Azivan falar e ouvir pouco, o pai dele o colocou em uma escola para crianças com necessidades especiais quando a família chegou em Caruaru. "Lá ele aprendeu a ler, escrever e fazer cálculos. Depois ele parou de estudar", conta a irmã. Ele diz que ainda tentou fazê-lo estudar outra vez em uma instituição para pessoas deficientes, mas ele não aceitou. "Depois de adolescente ele não quis aceitar que o fato dele ser uma pessoa, de certa forma, deficiente. Ele é mais limitado do que deficiente, na verdade", completa.
Ao G1, Joseni fala que o irmão chegou a usar aparelhos auditivos, mas não deu certo. Ela diz que todos da família entendem o que ele diz, basta ter um pouco de atenção na forma dele se comunicar. A autônoma lembra que tentou conseguir um emprego para Azivan em um mercado próximo da casa onde moram. "Quando falei do trabalho, ele disse: 'Não. Quero fazer bonequinho em casa'. Então, respeitamos a vontade dele", conta.
De acordo com Joseni, a vida de Azivan é sempre criando. No espaço que ele usa para "dar vida" aos bonecos, "só ele sabe, só ele mexe", como faz questão de lembrar a irmã. Quando queremos arrumar o local, ele não deixa. Já tentei ajudar ele com os bonecos também. Mas não deu certo. Ficou horrível", brinca Joseni
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Do G1 Caruaru
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