Truvada, o polêmico medicamento que promete impedir o avanço da Aids
Nos Estados Unidos, o Truvada foi aprovado pela agência sanitária Food and Drug Administration em 2012. Composta pelos antirretrovirais tenofovir e emtricitabina, a droga já era usada como profilaxia de pós-exposição, ou seja, para tratar soropositivos. Depois de um estudo divulgado pela renomada Science Translational Medicine, ficou claro que a mesma também poderia evitar o contágio por HIV. Liberado para comercialização no mercado norte-americano, a Organização Mundial da Saúde passou a recomendar fortemente seu uso pelos chamados grupos de risco: homens gays, casais sorodiscordantes (quando um tem o vírus) e dependentes químicos de drogas injetáveis. Diante desse quadro, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária registrou o medicamento no Brasil. Mas só a aprovação do Ministério da Saúde pode autorizar sua distribuição pelo Sistema Único de Saúde.
No tratamento há 24 semanas, Felipe passou pela abordagem abrangente de que fala Dr. Ester. Após a primeira entrevista, vieram os exames clínicos. As possíveis reações adversas foram explicadas amiúde. Além da entrega da droga, há também um acompanhamento frequente. Nas consultas, inclusive, existe a preocupação de defender o Truvada como um método complementar, nunca exclusivo. “Como tenho outros parceiros, a camisinha sempre foi algo presente na minha vida. Não é porque passei a tomar o Truvada que deixei de usá-la”. O jovem ainda discorda de quem acha que a liberação do composto pode resultar na suspensão do uso do preservativo. “Não deixo de usar porque me sinto mais seguro assim, mas o estado precisa entender que as pessoas devem se responsabilizar por suas escolhas. Essa suposição não pode impedir a descoberta de mais um método preventivo”.
Recém-chegada do Canadá, Dra. Heloísa Ramos marcou presença na edição 2015 da International AIDS Society Conference. E está animada com o que ouviu por lá sobre a eficácia do Truvada. “Essa é uma discussão necessária. Além de trazer benefício pessoal, é um tratamento que ainda evita a transmissão. O próximo passo é constatar sua adequação ao cotidiano do brasileiro”. Seu único porém é o gênero masculino empregado na última frase: brasileiro. “Alguns palestrantes mencionaram o fato de que o Truvada só se mostrou eficaz em homens, não em mulheres. Ainda não se sabe o motivo, mas há esse indicativo”. O benefício feminino, por sua vez, pode vir a reboque. Caso um marido soropositivo faça uso do medicamento, ele consegue impedir a transmissão do vírus à esposa. “Mas ainda há muito a se pesquisar”.
Pílula antiaids
Por enquanto, a novidade aprovada pelo Ministério da Saúde é a distribuição da pílula antiaids, já chamada de pílula do dia seguinte. O composto retroviral de tenofovir e lamivudina começou a ser distribuído ainda nos anos 1990. Desde o último 23 de julho, no entanto, qualquer indivíduo que tenha sido exposto ao risco do contágio por HIV tem acesso facilitado à medicação. Profilaxia de pós-exposição, o comprimido deve ser tomado por 28 dias consecutivos, sendo o primeiro deles em até 72 horas após a exposição. Na figura de José Cândido, o Fórum de ONG/Aids de Pernambuco parabeniza a iniciativa, mas olha enviesado à forma como a droga vem sendo divulgada. “Chamar de pílula do dia seguinte faz com que as pessoas pensem que o composto seja um simples anticoncepcional. Não é bem assim. Os remédios são fortíssimos, com possíveis efeitos colaterais. Eles devem ser usados em uma emergência”. No Recife, a medicação pode ser encontrada nos hospitais Agamenon Magalhães e Correia Picanço.
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