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quinta-feira, 25 de junho de 2015

Com maior superlotação prisional do país, Pernambuco vive emergência há 5 meses
Situação foi decretada após sucessivas rebeliões com mortos e feridos.
Presos relatam 'inferno'; barracos improvisados valem até R$ 25 mil.

Detentos ocupam laje de presídio no Complexo do Curado, no Recife (Foto: Marina Barbosa/G1)
Detentos ocupam laje de presídio no Complexo do Curado, no Recife, durante rebelião.
(Foto: Marina Barbosa/G1)
Preso sob acusação de roubo, Lucas, 28 anos, passou pouco mais de dois anos no Presídio Juiz Antônio Luiz Lins de Barros (Pjallb), que integra o Complexo do Curado, na Zona Oeste do Recife. O conjunto carcerário, que é o maior de Pernambuco, dispõe de 2,1 mil vagas, mas abriga o triplo da capacidade. Lucas foi mantido no local em uma cela com outros 80 homens, sendo obrigado a dormir sentado e utilizar um banheiro imundo. "São 600 homens num pavilhão onde cabem 200. Imagina o inferno", relata ao G1.
São 600 homens num pavilhão onde cabem 200. Imagina o inferno"
Lucas, ex-interno do Complexo do Curado
As condições vivenciadas pelo ex-presidiário se repetem nas outras 20 unidades do estado. Ao todo, há 11 mil vagas para uma população carcerária de 31 mil internos, um índice de superlotação de 183% – o maior do país, segundo levantamento do G1. Após o registro de sucessivas rebeliões no Complexo do Curado, que deixaram mortos e feridos em janeiro passado, o governo estadual decretou emergência no sistema penitenciário. No entanto, quem saiu recentemente dos presídios continua relatando uma rotina de violência e desrespeito à lei.
Assim como Lucas, Marcos também tem 28 anos. Ele foi apreendido pela primeira vez ainda adolescente, aos 15 anos, e acabou passando por várias unidades. Na última vez, esteve na Penitenciária Agroindustrial São João, em Itamaracá, no Grande Recife. "A gente dormia 15, 16 homens em uma cela, tudo encolhido", lembra. Ele saiu da prisão há seis meses, após cumprir pena por assalto e tentativa de homicídio.
À reportagem, Marcos diz que a presença da polícia dentro das unidades é quase inexistente. "Quem manda lá dentro são os chaveiros, e tem de tudo, inclusive droga e arma. Quando eles [os policiais] vêm entrar, já é tarde demais", conta. O ex-detento Pedro, 22 anos, também queixa-se da figura dos chaveiros, que comandam o presídio com o aval dos chefes de segurança, segundo ele.
Marcos diz que dormia encolhido, com mais de 16 internos ocupando uma mesma cela (Foto: Penélope Araújo/G1)
Marcos diz que dormia 'encolhido', com mais de 16 internos
ocupando uma mesma cela (Foto: Penélope Araújo/G1)
Pedro, que saiu do Pjallb há cerca de um mês – ele foi preso por associação ao tráfico – acrescenta que o lugar onde o presidiário se acomoda depende das suas condições financeiras. "Se ele [o preso] tem dinheiro, compra um barraco. Quem não tem dinheiro fica no corredor", afirma.
De acordo com o ex-presidiário, os preços dos barracos improvisados no Complexo do Curado variam de R$ 2,5 mil a R$ 25 mil. "No Pjallb, os melhores pavilhões são os G e H. Há celas que chegam a custar R$ 25 mil. O pavilhão O é o pior, onde a gente dorme em pedras, o espaço é só um colchão de solteiro, o suficiente para ficar sentado. Uma pedra custa R$ 1 mil. No pavilhão I, as celas são divididas em barracos, mas são menores, um barraco sai por R$ 2.500."
Pedro ainda destaca que a alimentação servida na unidade é de baixa qualidade e um garrafão de água mineral pode custar R$ 10. "Eu mesmo fazia minha comida, não comia a boia do presídio, não. De 6h, era um pão com manteiga. De meio-dia, uma galinha, mas a gente já viu até as penas dela no meio da refeição", comenta. Assim como Lucas e Marcos, Pedro é um nome fictício. Eles concederam as entrevistas, mas pediram para ter suas identidades preservadas.
Do:G1

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